Presença paterna, alertam médicos, faz bem nos primeiros anos de vida da criança que encontra o ambiente ideal para seu aprendizado e desenvolvimento estrutural do cérebro
Com a discussão no Supremo Tribunal Federal (STF) em relação à extensão do benefício da licença de 180 dias para servidores públicos que se tornem pais solteiros de crianças geradas a partir de técnicas como a fertilização in vitro, por exemplo, tal medida tem impacto direto no desenvolvimento do bebê.
Presença paterna nos primeiros anos de vida do bebê
Em caso de aprovação, tal medida tem impacto positivo na vida dos bebês com seus pais. Isso porque são nos primeiros seis meses da criança que eles diante de uma janela de oportunidades para o conhecimento. Portanto, a presença paterna é fundamental neste momento.
É na chamada primeira infância que a formação das competências humanas ocorre em um ambiente ideal. Isso tudo está atrelado ao próprio desenvolvimento estrutural do cérebro.
Além disso, o que a criança aprende nessa fase, dos primeiros passos às primeiras palavras, passando pelo entendimento das emoções e sensações, pode apresentar impactos significativos ao longo da vida.
Benefícios da presença paterna
Nos primeiros anos de vida, o desenvolvimento infantil apresenta um ritmo acelerado. É quando ocorrem os primeiros passos do bebê e as primeiras palavras, além de processamento das emoções.
Contudo, aqui também acontece a fase de amadurecimento do cérebro, que faz com que o bebê tenha uma alta capacidade de absorção. E é determinante emocional e cognitivo.
Segundo a neuropediatra Christiane Cobas, do Hospital Sírio-Libanês de São Paulo, explica que na primeira infância a comunicação entre os neurônios (sinapse) está no seu período de auge.
Sendo assim, a intensificação das sinapses acontece a partir das interações da criança com outros indivíduos e com o ambiente externo, principalmente por estímulos aos sentidos, como o tato, a visão e a audição.
“Nesses primeiros dois anos de vida, quanto mais estímulos diferentes essa criança receber, melhor será o desenvolvimento, principalmente socioemocional.”
Por outro lado, o estabelecimento dos laços afetivos começa ainda durante a gestação, quando a criança passa a ouvir e perceber o ambiente à sua volta no útero materno.
Estímulos
Já para a psicóloga e professora da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Camila Turati Pessoa:
“Quanto mais a gente busca garantir que esse pai esteja presente na vida da criança, inclusive fisicamente, com disponibilidade, com as condições concretas necessárias para esse desenvolvimento infantil, não vamos estar pensando somente na infância, mas numa ampliação dessa rede de apoio do desenvolvimento da saúde física, psíquica e contextual que essa criança participa.”
O contato da criança com o pai ou a mãe começa pelo o olhar que transmite a sensação de segurança e de afeto, reforçando a formação de vínculos, reforça Christiane:
“Para cada faixa etária, há um estímulo adequado a se fazer. Com um bebê recém-nascido, por exemplo, é importante manter esse contato olho a olho. Ao colocar o bebê na sua frente e fazer gestos, você percebe que ele começa a te imitar. Brincar com a criança, interagindo, mostrar os diferentes estímulos, começando a introduzir conceitos de formas, cores, tudo faz parte do aprendizado.”
Tempo com qualidade
A chegada de um novo membro na família provoca mudanças na rotina com horas a menos de sono e turnos extras voltados aos cuidados dos pequenos.
Vale ressaltar que as jornadas de trabalho, afazeres domésticos e necessidades individuais na mesa, pode ser difícil encontrar momentos de tranquilidade entre pais e filhos.
Para a psicóloga da UFU, Camila Turati Pessoa, a estruturação de uma rede de apoio para o desenvolvimento infantil também passa pelas relações de trabalho. Ela defende que a presença do pai desde os primeiros dias de vida seja garantida o máximo de tempo possível.
“Quanto mais as relações de trabalho privilegiem que esse pai possa estar com essa criança, mais estamos pensando a longo prazo enquanto sociedade. Um pai que tem sobrecarga de trabalho, com uma remuneração que, muitas vezes, pouco atende às necessidades básicas, traz consigo condições muito desfavoráveis para que esteja de fato com sua família e com seu bebê de forma plena.”
A especialista destaca ainda que os horários de trabalho podem se chocar com a rotina natural de despertar e sono da criança. E isso pode contribuir mais para o afastamento paterno, conclui.
“É uma discussão pertinente para a área do trabalho e para as políticas públicas pensar no desenvolvimento infantil considerando o tempo de licença paternidade, o tempo de trabalho dos pais com crianças pequenas, para que isso não seja exclusividade de poucos.”
*Foto: Depositphotos