Índice de mães discriminadas no mercado de trabalho cresceu em meio à pandemia de Covid-19
Com jornada dupla diária, há muitas mães discriminadas no mercado de trabalho, especialmente após a pandemia de Covid-19. Neste artigo contaremos algumas histórias curiosas sobre este fator que cresceu no último ano.
Mães discriminadas no mercado de trabalho
Não é de hoje que muitas mães têm jornada dupla diariamente, por trabalharem fora e em casa também. Apesar de algumas conquistas no mercado de trabalho, muitas mulheres ainda enfrentam rejeição na hora de buscar um emprego. Isso porque muitas empresas preferem não contratar mulheres que são mães de filhos pequenos.
Prova disso é que em outubro de 2020, em meio à pandemia, uma foto viralizou nas redes sociais. Na ocasião, uma empresa do Amapá publicou um anúncio de emprego que dizia que estavam à procura de “vendedora que não tivesse filhos menores de 4 anos”.
Posição do Ministério Público do Trabalho (MPT) sobre mães discriminadas no mercado de trabalho
Neste caso, o Ministério Público do Trabalho (MPT) entrou com uma ação em razão da conduta do empregador e o grupo empresarial assinou um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC).
Embora tenha havido um ato de discriminação durante o processo de seleção para esta vaga “por motivo de sexo, origem, raça, cor, estado civil, situação familiar, deficiência, reabilitação profissional ou idade” e isso ser crime, ainda é uma prática comum no Brasil.
Relatos de mães que sofreram discriminação
Diante dessa realidade, a revista Crescer ouviu três mães que enfrentaram a mesma situação.
É o caso de Aline Oliveira, mãe de Luiz Miguel, 1 ano, e que mora no Cuiabá (MT). Ela, que trabalha com venda de consórcio, afirmou à publicação:
“Quando a pandemia começou, tinha conseguido um emprego e estava tudo bem até que eles precisaram demitir alguns funcionários. Em uma empresa com 16 funcionários, cinco foram demitidos e todos eram mães com crianças de até 10 anos. Os que ficaram não tinham filhos pequenos ou eram homens. Meu gerente, que era pai na época, chegou a dizer que quem tem filhos não pode se dedicar tanto quanto as outras pessoas. Então eu questionei: “ok, mas e sua filha?”. E ele disse: “mas a minha filha fica com a mãe, no seu caso, você é a mãe.”
Ela ainda completou que esta não foi a primeira vez e que em 5 de janeiro de 2020 viveu a mesma situação em outra entrevista. Quando o selecionador leu seu currículo a questionou se é mãe. Ela disse que sim e na época seu filho tinham sete meses de vida. Em seguida, o selecionador disse:
“Olha, seu currículo é impecável, sua dicção é muito boa e você seria uma ótima funcionária para integrar nosso quadro, mas não contratamos mães com filhos pequenos porque elas não conseguem vestir a camisa da empresa.”
Aline diz ainda que desde que Miguel nasceu e foi a algumas entrevistas de emprego sempre teve que explicar sobre: com quem o filho ficava, o que ele fazia, comia ou se ele ainda mamava. Ela se sente discriminada, já que todas as suas qualificações profissionais não importam no momento em que afirma que tem um filho pequeno.
Antes de ser mãe a contratação era imediata
Para Beatriz Gomes, mãe de Leonardo, 3, de São Bernardo do Campo (SP), quando ela ainda não era mãe era facilmente contratada a partir de suas qualificações profissionais.
“Antes de ser mãe, participava de algumas entrevistas que estavam de acordo com as habilidades do meu currículo e era rapidamente contratada. Tenho alguns cursos profissionalizantes e, antes de ter filhos, nunca tive dificuldade de encontrar emprego, pelo contrário, felizmente recebia várias propostas. Depois que me tornei mãe, isso mudou completamente.”
Ela recorda que fez um processo seletivo em 2019 e que passou nas provas. Porém, quando ela disse ao avaliador que possuía dependentes e a idade do filho de 3 anos, percebeu que o tom do entrevistador mudou. E dias após a dinâmica recebeu a mensagem que não era qualificada para a vaga. Isso a marcou e já afirma que se tornou recorrente após ser mãe.
Procurando estágio para complementar o curso de direito
Por outro lado, Thayane Costa, mãe de Filipe, 13 anos, Matheus, 11, Gabriel, 6 e Thiago, 4, de Manaus (AM), enfrenta o problema de não conseguir um estágio para finalizar seu curso superior em Direito.
“Sou formada em serviço social e estou cursando direito agora. O último trabalho que tive de carteira assinada, passei 5 meses, trabalhando como instrutora de cursos livres. Meu filho sofreu um acidente doméstico e tive que me ausentar algumas vezes por ele ter ficado internado 15 dias. Durante esse período, só não compareci quando era extremamente necessário, mesmo tendo o atestado de acompanhante, ministrei várias aulas. Um mês depois disso, fui demitida, com a justificativa de redução de quadro, sendo que em seguida contrataram um professor (homem).”
Hoje, ela trabalha como autônoma, vendendo vários tipos de produtos para o sustento da família e revela que é “complicado não ter ao menos a oportunidade de mostrar sua capacidade”. E completa:
“É como, se o fato de ser mãe, nos tirasse todo o mérito de profissional. Espero que o curso de direito me dê mais oportunidades, por ser uma área que tem a possibilidade de atuar por conta própria.”
*Foto: Divulgação/Depositphotos