Dificuldade de desenvolvimento resultou no experimento de um grupo de pesquisadores da Ufra, que conta com o uso de inteligência artificial para ajudar a identificar possíveis sintomas
Pesquisadores da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra) estão desenvolvendo um sistema, que a partir do uso de inteligência artificial, pode ajudar a identificar crianças com déficits de desenvolvimento. Com isso, cria-se um banco de dados para subsidiar políticas públicas. O foco é possibilitar às famílias de crianças com dificuldade de desenvolvimento a terem o diagnóstico ainda na primeira infância, além do acesso às políticas específicas de atendimento. O projeto tem duração de 18 meses e começou em agosto deste ano.
Dificuldade de desenvolvimento infantil
O projeto voltado a crianças é denominado de Sistema Inteligente para Promoção do Desenvolvimento Infantil na Amazônia Paraense (SDIA). Ele conta com o apoio do governo do estado do Pará e ainda está em fase piloto. O objetivo é que o software auxilie a fazer um rastreamento de crianças de 0 a 5 anos, ainda na primeira infância e que apresentem dificuldade de desenvolvimento. A intenção é identificar características específicas dessas crianças, para que sejam direcionadas a uma rede de apoio especializada, garantida por lei e oferecida pelos órgãos públicos. O projeto tem previsão para entrega ainda em 2024.
De acordo com o professor Marcus Braga, da Ufra campus Paragominas e coordenador do SDIA:
“Nós estamos fazendo protótipos, testando tecnologias, para em seguida treinar o software e aí sim aplicar e consolidar a tecnologia. Na prática, o aplicativo vai auxiliar em entrevistas com pais e professores, sugerindo perguntas e respostas já preconizadas pelo Ministério da Saúde e por profissionais especializados na área, dando uma prévia se aquela criança apresenta características específicas, como por exemplo, do autismo. A partir daí a equipe vai indicar para uma rede de atendimentos e diagnósticos especializados disponíveis no estado, como o serviço de saúde.”
Protótipo
Assim que estiver disponibilizado o protótipo, o SDIA irá coletar dados em uma creche de Belém, com 50 profissionais da educação infantil. O projeto prevê a capacitação tanto de professores quanto de pais para uso do protótipo, além da transferência da tecnologia. O pesquisador explica que a meta é que o programa possa se expandir para escolas e unidades de saúde. Junto ao professor, atua também uma equipe multidisciplinar composta pelos professores Fabrício Araújo ; Flávia Marçal; Liliane Afonso; Gilberto Nerino; Isadora Mendes; Aline Cruz (UFPA – Hospital Barros Barreto); Daniel Leal (CESUPA) e o Núcleo de Pesquisas em Computação Aplicada (NPCA), da Ufra campus Paragominas.
Atenção à dificuldade de desenvolvimento
A primeira infância é um período crucial no desenvolvimento humano, onde dificuldades e atenção especial frequentemente se manifestam, como explica a professora Flávia Marçal, coordenadora do Projeto TEA Ufra e integrante do SDIA. “A identificação precoce de deficiências, como autismo e síndrome de Down, é fundamental para proporcionar intervenções adequadas e oportunas, maximizando o potencial de cada criança. O suporte educacional na primeira infância, incluindo alfabetização e habilidades essenciais, estabelece uma base sólida para o desenvolvimento futuro das crianças, preparando-as para o sucesso acadêmico e pessoal. É vital direcionar atenção e recursos para essa fase da vida, garantir que todas as crianças tenham igualdade de acesso aos direitos é um princípio fundamental e o projeto busca promover essa igualdade, reconhecendo as diferenças individuais”, explica a professora.
Apoio
O projeto pode ajudar famílias como a de Regiane Medeiros. Ainda na infância do filho, ela percebeu que Rodrigo, de apenas dois anos, não estava desenvolvendo a fala conforme a idade. Então, ela sentiu que deveria procurar ajuda. Foi após passar por vários profissionais que Rodrigo foi diagnosticado com transtorno do espectro autista (TEA). “Como ele teve o diagnóstico nessa fase, nós pudemos procurar uma equipe multidisciplinar que auxiliasse nesses estímulos e ajudasse no desenvolvimento dele. Hoje Rodrigo tem 16 anos, é funcional, consegue fazer várias atividades sozinho, frequenta a escola e ano que vem já vai entrar no nível médio”, diz.
Portanto, para Regiane Medeiros, ter acesso a informações sobre onde estão e quem são essas pessoas pode fazer toda diferença. “Nosso estado é muito grande, tem informações que não chegam, muitas famílias não sabem nem o que é TEA, quem devem procurar, suspeitam do desenvolvimento dos filhos, mas não sabem o que fazer, não tem um laudo. Há pessoas adultas que estão conseguindo o laudo somente agora, depois de passarem por muita coisa que não precisavam. Não tem como construir políticas públicas sem dados. O Brasil como um todo não tem essas informações consolidadas e o Pará vai sair na frente”, diz Regiane, uma das 400 integrantes do Mundo Azul, grupo de mães, tias e avós de pessoas com autismo.
Disponibilidade
Quando for finalizado, o SDIA estará disponível para acesso via web, a partir de tablet, smartphone e celular Android e IOS e estará integrado à rede estadual. Além da Ufra, também integram o projeto a Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa) e Secretaria de Estado de Educação (Seduc). O SDIA é financiado pela Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas (Fapespa) e tem os recursos geridos pela Fundação Guamá.
*Foto: Reprodução/br.freepik.com/fotos-gratis/menina-fazendo-terapia-da-fala-em-uma-clinica_18775247