Desenvolvimento infantil é um dos marcos que os pais devem observar se a criança está no caminho esperado ou se há algum atraso
A chegada de um bebê é rodeada de expectativas. Isso inclui: quando vai sorrir pela primeira vez, falar sua primeira palavra, dar seus primeiros passinhos? A primeira infância é um período repleto de aprendizados e descobertas que devem ser estimulados. Isso porque as crianças não vão se desenvolver de modo exatamente igual. Porém, existem aspectos do desenvolvimento do bebê que precisam ser alcançados até certa idade. Caso isso não ocorra, é necessário investigar a causa.
Atraso no desenvolvimento infantil
O atraso no desenvolvimento infantil diz respeito a não desenvolver determinadas habilidades conforme o que é esperado para a sua faixa etária.
Em declaração ao portal do dr. Drauzio Varella, a dra. Ellen Manfrim, neuropediatra e diretora da Clínica Integrar, em Santa Cruz do Rio Pardo (SP), explicou:
“É importante lembrar que atraso no desenvolvimento não é um diagnóstico, ou seja, uma criança com atraso de fala pode ter apenas um atraso de fala por falta de estímulo, mas esse atraso pode ser parte de um diagnóstico, por exemplo, o transtorno do espectro autista (TEA). Então, ter um atraso no desenvolvimento não indica necessariamente um transtorno, mas há sim maior chance dessa criança receber um diagnóstico futuro de um transtorno.”
Causas
Entre as possíveis causas que podem levar a um atraso no desenvolvimento, podem envolver fatores genéticos, neurológicos ou ambientais. No caso dos neurológicos, podemos citar os transtornos do neurodesenvolvimento, como transtorno do espectro autista (TEA), transtorno de déficit de atenção com hiperatividade (TDAH), transtorno do desenvolvimento intelectual e paralisia cerebral, por exemplo.
Outras causas incluem condições genéticas como a síndrome de Down, complicações relacionadas à gravidez e ao parto, subnutrição, infecções congênitas como por citomegalovírus, perda auditiva, déficits sensoriais, entre outros.
Marcos do desenvolvimento
O marcos do desenvolvimento envolve um conjunto de habilidades que as crianças devem atingir em determinadas idades. Os principais acontecem já nos primeiros anos de vida e incluem aspectos motores, cognitivos, socioemocionais e de linguagem. Segundo a dra. Renata Di Francesco, otorrinolaringologista e foniatra e presidente do Núcleo de Estudos de Desenvolvimento e Aprendizagem da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP):
“Os marcos ajudam os pais e profissionais da saúde a perceberem se o desenvolvimento está ou não dentro do esperado. As idades desses marcos não são precisamente definidas e pode haver algumas variações de criança para criança, dentro de alguns limites.”
Desenvolvimento motor:
- 2 a 3 meses: sustentar a cabeça;
- 4 meses: agarrar objetos;
- 6 a 7 meses: sentar-se sem apoio;
- 10 meses: ficar de pé;
- Até 1 ano e 4 meses: andar sem apoio.
Desenvolvimento da linguagem:
- Ao nascer: reconhecer a voz da mãe e reagir a sons (o bebê escuta desde o útero);
- 2 a 3 meses: emitir vogais;
- 7 meses: começar a entender “não” e atender ao próprio nome;
- 9 meses: balbucios silábicos (como “mamama” ou “dadada”, por exemplo);
- Em torno de 1 ano: falar as primeiras palavras funcionais;
- 3 anos: conseguir manter um diálogo, mesmo com desconhecidos.
Desenvolvimento socioemocional:
- 2 meses: sorrir em resposta e estímulos;
- 9 meses: demonstrar medo de pessoas estranhas;
- 1 ano: pedir e compartilhar brinquedos.
Como identificar os atrasos
Para identificar se a criança está com algum atraso, preste atenção às janelas de tempo dos marcos do desenvolvimento. Por exemplo, as crianças começam a andar normalmente entre 11 e 16 meses, sendo 16 meses o prazo máximo – conhecer esses prazos é de extrema importância, segundo a dra. Ellen.
Já a dra. Renata destaca que também é importante avaliar todo o conjunto do desenvolvimento. Pode ser que a criança esteja com um atraso para andar porque já teve um atraso anteriormente, para sentar, por exemplo.
O importante é se informar e saber que existe um padrão para o desenvolvimento infantil, e o que fugir disso deve ser investigado por um profissional.
Avaliação e diagnóstico
Quando os pais ou responsáveis percebem que há alguma alteração no desenvolvimento da criança, o primeiro passo é iniciar a investigação com o próprio pediatra, e posteriormente com outros especialistas, se necessário, como neurologista, fonoaudiólogo, psicólogo, entre outros, a depender de cada caso.
Muitas vezes a jornada para chegar a um diagnóstico é longa e passa por diversos profissionais. Mas, nem todos acolhem e escutam a família de modo adequado. Portanto, ter uma segunda opinião pode se fazer necessária.
Neste caso, a dra. Ellen afirma que o diagnóstico de um atraso no desenvolvimento é feito através de uma boa conversa com a família – a chamada anamnese –, da observação da criança – que deve ficar livre durante a consulta – e do exame físico.
“Numa primeira consulta, o médico já deve levantar as principais hipóteses diagnósticas, encaminhar essa criança para a avaliação de outros profissionais (como fonoaudiólogo, psicólogo e fisioterapeuta) e solicitar os exames complementares necessários. Nem sempre precisamos fazer exames complementares, como ressonância, eletroencefalograma, etc, pois alguns diagnósticos são clínicos, como o transtorno do espectro autista. Aliás, nesses casos, solicitar exames pode até atrasar o diagnóstico e prejudicar o desenvolvimento da criança.”
Pandemia
Por fim, não tem como negar o fato de como a pandemia de covid-19 impactou no desenvolvimento das crianças de forma geral. Os bebês nascidos em 2020 conheceram o mundo de forma muito diferente do que estávamos acostumados, e as crianças nascidas antes precisaram lidar com mudanças muito difíceis e estressantes, observa a Dra. Renata.
“As crianças foram afetadas de forma importante, pela redução do convívio social, da interação de adultos com máscaras, estresse familiar, falta de creches e escolas.”
*Foto: Depositphotos