Crise dos 4 meses inclui alterações no padrão do sono do bebê, assim como variações de apetite, aumento da agitação e maior apego; entenda como lidar com todas essas questões
Definir uma rotina exemplar nos primeiro meses de vida do bebê é praticamente impossível. Porém, com algum conhecimento, é possível tornar o dia a dia mais tranquilo para pais e filho. Na tão temida crise dos 4 meses, por exemplo, que é uma fase desafiadora é preciso estar preparado. Sendo assim, confira neste artigo dicas e recomendações valiosas para passar por este período da melhor forma.
Crise dos 4 meses – o que fazer?
De acordo com a pediatra Ana Márcia Guimarães, que também integra o Departamento Científico de Desenvolvimento e Comportamento da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), em relação à crise dos 4 meses, ela explica:
“Desde o nascimento, o desenvolvimento infantil acontece com o bebê extraindo do ambiente as oportunidades para ir evoluindo e ampliando sua complexidade por meio de suas experiências. É, portanto, um salto de uma etapa para outra mais complexa.”
Vale dizer que todos os dias os bebês conquistam pequenas novas habilidades. Segundo marcos do desenvolvimento motor elencados pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), é esperado que aos 4 meses o bebê passe a estender os bracinhos para pegar objetos, consiga se sentar com suporte, rolar e, quando colocado de pé, consiga empurrar o apoio com os pés. Nessa fase, também emite mais balbucios e gargalhadas e se entretém com suas mãos e dedos – levando-os frequentemente à boca. Além disso, a hora da mamada também passa a competir com os estímulos ao redor.
Contudo, sobre as alterações no sono pode haver episódios intensos de choro e uma maior dificuldade em se acalmar. E ainda pode haver aumento no apego e variações no apetite.
A crise dos bebês não precisa ser uma crise para os pais
Nessa fase há um salto de desenvolvimento, que nada mais é do que novas habilidades que o bebê está adquirindo e que são fundamentais para o seu aprendizado. Entretanto, isso pode trazer mudanças em seu comportamento e, consequentemente, gerar um certo estresse. Isso porque, todas essas modificações e novas sensações podem deixá-los mais instáveis, sensíveis e cansados. E aí entram o choro, sono desregulado, e manhas mais frequentes.
Todavia, é fundamental lembrar que essa fase indica um sinal positivo do desenvolvimento do seu filho. Geralmente, ela dura de uma semana a um mês, mas varia conforme diversos fatores, desde a personalidade da criança até a forma como a família lida com a situação.
Por outro lado, se as mudanças forem muito extremas ou persistirem, consulte o pediatra. Há casos em que essas alterações podem não ser apenas reflexo da crise, mas também sintomas de outras enfermidades ou condições. E o mesmo vale para os cuidadores. “Se os pais sentirem que não estão bem, busquem ajuda. A depressão, seja materna ou paterna, também é um fator de risco para o desenvolvimento infantil”, ressalta Ana Márcia Guimarães.
Mais sobre a crise dos 4 meses
Por volta dos 3 meses, ocorre o fim da chamada exterogestação, período após o nascimento no qual o bebê ainda necessita de muito contato com a mãe para uma transição mais tranquila ao mundo externo. É o chamado período simbiótico, em que o bebê sente que ele e a mãe são um só ser. Com o término deste ciclo, ele começa a ter uma maior percepção do mundo exterior e dos estímulos visuais, auditivos, olfativos e táteis que o rodeiam. Essa expansão dos sentidos leva a um período de intenso desenvolvimento cognitivo.
Mas por que isso acontece?
Segundo a pediatra Ana Márcia, é nesta fase que as conexões neurais estão em plena atividade. “Cerca de 80% do crescimento neurológico de um indivíduo ocorre até os 2 anos de idade. Assim, aos 4 meses, vivenciamos um momento de intensidade, no qual todo o sistema sensório-motor do bebê está em franca modificação: audição, visão, paladar, olfato, tato e movimento. E o bebê pode responder de diversas maneiras a todos esses estímulos”, ressalta a especialista da SBP.
Mudança no sono: um dos sintomas mais comuns
Os pais relatam que a questão do sono é, muitas vezes, conhecida como a regressão do sono do bebê. Alguns dos sintomas incluem:
- Maior distração com o ambiente ao redor do berço;
- Interrupção da rotina estabelecida de horários de sono;
- Alteração nos horários dos cochilos do dia;
- Aumento da frequência com que a criança desperta durante a noite;
- Possível agitação no momento de adormecer e ao acordar;
- Redução no total de horas de sono.
A pediatra diz ainda que o motivo é justamente esse fluxo novo de mudanças que estão ocorrendo, além de fatores hormonais. Nessa idade, o bebê já tem um ciclo circadiano estabelecido, e seu organismo passa a responder melhor a mudanças de temperatura, luminosidade e alimentação.
Causas da crise
Com tantas mudanças ocorrendo ao mesmo tempo, é natural que o bebê demande mais atenção neste período, apesar de tentar se autorregular usando as ferramentas que já conhece. Há crianças, por exemplo, que alteram o apetite: passam a mamar mais como resposta sensória-motora ao desequilíbrio. Aumentam a demanda pela busca oral com objetivo de encontrar conforto e diminuir a ansiedade gerada pelos desafios desta fase. Consequentemente, ficam mais apegados à mãe e podem reagir com irritabilidade quando afastados de sua figura de segurança.
Quanto tempo dura a crise?
Apesar de ser comum, é importante reforçar que nem todos os bebês apresentam mudanças evidentes exatamente aos 4 meses ou ao mesmo tempo que os outros. Os marcos de desenvolvimento infantil servem apenas como métricas que ajudam a balizar o progresso dos pequenos, mas não devem ser vistos como regras imutáveis.
Portanto, é também muito difícil definir quantas semanas dura a crise dos 4 meses. Ela pode ser breve, apenas por alguns dias, ou se estender por semanas. Em algumas famílias, essa fase é intensa e desafiadora, enquanto em outras pode transcorrer sem grandes sobressaltos.
Como posso ajudar meu filho nessa fase?
A médica afirma que “a primeira coisa que os pais devem fazer é aceitar aquele bebê como ele é: seja mais falante, mais calado, mais passivo, mais chorão. Entender que ele é único e diferente do irmão, do colega e até mesmo dos próprios pais”.
E ainda acrescenta que é preciso estar disponível e presente com afeto. Ou seja, “afagar, acolher e proporcionar o que ele precisa naquele momento, reconhecendo, inclusive, que serão necessidades diferentes daqui um mês ou dois”.
Nova fase, nova rotina!
Por fim, é preciso ter em mente que ninguém está sugerindo abandonar completamente a rotina e começar do zero, admite a pediatra. A ideia é ser flexível ao que se apresenta como a nova realidade do bebê. Assim como ele está em pleno aprendizado e transição, os pais também precisam evoluir com o filho.
*Foto: Reprodução/br.freepik.com/fotos-gratis/adoravel-bebe-deitado-e-brincando-no-chao-com-brinquedo_24751537