Covid na gestação, segundo estudo da Unicamp, a infecção pode ‘desorganizar’ placenta
Um estudo realizado pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), à convite da Organização Mundial da Saúde (OMS) analisou os impactos da Covid-19 entre mulheres grávidas e puérperas. Os pesquisadores acompanharam mais de 700 mulheres em 15 maternidades do Brasil. O trabalho reforça a importância da vacinação mesmo em meio à melhora da pandemia, diz professora associada do Departamento de Tocoginecologia da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, Maria Laura Costa do Nascimento.
Covid na gestação
A Covid na gestação já obteve resultados publicados, que indicam que o risco de transmissão do vírus entre a mãe infectada e o bebê é baixo. No entanto, o coronavírus pode ‘desorganizar’ o funcionamento da placenta, inclusive, levando ao risco de morte.
Um outro estudo de 2021 já apontava que as funções motoras de bebês de grávidas com covid.
Vacinação
Por outro lado, a professora Maria Laura Costa do Nascimento confirma que esse grupo deve ser considerado de alto risco para a doença. Sendo assim, a pesquisa reforça a necessidade da vacinação como meio de prevenir o agravamento da doença e, consequentemente, preservar a saúde de mãe e filho.
“Muito do nosso esforço foi também para coletar material biológico, investigar a placenta dos casos de mulheres que tiveram Covid, coletar o sangue e diversas amostras, estudar a presença do vírus ou não. Nem todos esses resultados estão publicados, mas a gente pôde demonstrar isso: o risco de transmissão pro bebê é muito baixo e existe sim um risco de comprometimento da placenta, desorganização do funcionamento [incluindo problemas de oxigenação e desenvolvimento do órgão], quanto mais precoce e mais grave a infecção durante a gestação.”
Ela ainda disse que como o estudo foi definido bem cedo, durante a pandemia, esses dados todos são prévios à vacinação, revelando os impactos da doença.
“Esse estudo seguiu e agora a gente também tem os dados da vacinação que, certamente, é a intervenção mais preventiva para garantir uma boa resposta e diminuição da gravidade da infecção pela Sars-CoV-2.”
Rede Brasileira de Estudos em Covid-19 e Obstetrícia (Rebraco)
Além dela, o estudo também foi coordenado pelos professores doutores Guilherme Cecatti, Renato Souza e Rodolfo Pacagnella. A iniciativa, que foi batizada de Rede Brasileira de Estudos em Covid-19 e Obstetrícia (Rebraco), teve início logo no primeiro ano da pandemia e, até fevereiro de 2021, coletou amostras de 729 mulheres atendidas por 15 maternidades de todo o país. Parte dos resultados já foram divulgados e agora esperam a aprovação de revistas científicas.
Grupos específicos
Com o projeto, os pesquisadores também puderam comprovar os efeitos do covid em grupos específicos, como gestantes obesas, hipertensas e diabéticas. Outro ponto está associado a fatores socioeconômicos. Isso porque mulheres não brancas e com menor escolaridade também possuem risco aumentado para morbidade e mortalidade materna, segundo o levantamento. Juntas, essas foram as que mais sofreram os efeitos da infecção, principalmente para o risco de alterações na pressão arterial, como conta a médica.
“Os trabalhos têm mostrado maior frequência de pré-eclâmpsia em mulheres com Covid-19. [Essa é] uma doença complexa, com aumento de pressão arterial e acometimento de diversos órgãos, que ocorre na segunda metade da gravidez. Nosso estudo mostrou que as mulheres com Covid e pré-eclâmpsia têm um desfecho ainda pior, com maior risco de prematuridade e morbidade materna. E muitas vezes, na doença grave, é difícil fazer o diagnóstico diferencial dessas condições, dificultando a decisão sobre o melhor momento para o parto.”
Como naquela época a testagem para Covid-19 ainda não era tão acessível, nem todas as mulheres que participaram da pesquisa tiveram a confirmação do diagnóstico – na maioria dos casos, o teste só foi feito quando a paciente precisou de internação. Mesmo assim, todas manifestaram sintomas da doença. Do total, 77% fizeram testes, sendo que 276 receberam resultado positivo. A médica explica ainda que, além da relação entre a gestação e a doença, o estudo ainda foi além na investigação dos impactos da pandemia.
Novo momento de pandemia
A professora disse ainda que apesar de estarmos vivendo um novo momento da pandemia e os efeitos da doença não serem tão graves como nos anos iniciais, é preciso considerar a importância desses dados. Para ela, a pesquisa ajuda a entender o que passou e trazem conhecimentos para o futuro. É relevante também por ser um dos poucos balanços registrados em um país de menor recurso – se comparado às nações mais ricas e que, normalmente, têm maiores investimentos para pesquisas como essa. Agora a iniciativa trabalha por mais resultados.
Por fim, ela afirma que por meio desse estudo será possível deminstrar muita coisa:
“Vamos discutir muito das amostras biológicas, dos efeitos na placenta, no leite materno. Ainda tem muito por vir. Claro que, com o fim da pandemia, o interesse sobre o assunto parece diminuir, mas a gente ainda tem muita coisa para mostrar de tudo que aconteceu no Brasil. Os efeitos foram muito significativos. A razão da mortalidade subiu muito no período, ainda não caiu o suficiente, e acho que está na hora de registrar e tentar mudar o cenário.”
*Foto: Depositphotos