Após sete meses desde quando foi anunciado o estado de pandemia em todo o Brasil, não se sabe ao certo o impacto da Covid-19 em gestantes. Esse fator fica evidente em um artigo científico publicado no periódico JAMA (Journal of American Medical Association).
Covid-19 em gestantes
De um lado, o estudo aponta que grávidas com coronavírus podem estar mais propensas a terem pré-eclâmpsia durante a gestação. Porém, os próprios cientistas ressaltam que mais evidências são necessárias antes de confirmar este efeito. Isso porque esta pesquisa foi conduzida por um curto período de tempo.
Até o momento, já sabemos que a doença pode acometer mais gestantes, em função de agravamentos de infecções respiratórias. A seguir, vamos citar oito pontos que toda gestante deve saber a respeito da Covid-19.
1 – A Covid-19 pode provocar maior risco de pré-eclâmpsia?
A pré-eclâmpsia é marcada por uma subida na pressão arterial durante a gestação. Esse fator pode trazer problemas para a mãe e o bebê. Sobre isso, a ginecologista do hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo, Tarsila Gasparotto, afirma:
“A Covid-19 gera uma inflamação com potencial de causar tromboses. E isso pode interferir nos mecanismos que causam pressão alta na gravidez.”
Entretanto, como o próprio artigo do JAMA aponta, é preciso fazer mais estudos para comprovar a consistência desses resultados. Além do que, foi avaliada uma única população durante um curto espaço de tempo.
2 – Transmissão vertical
Alguns indícios apontam a transmissão da doença de mãe para filho. Mas ainda é cedo para comprovação. Até o momento foram relatados casos isolados em que foi achada carga viral da Covid-19 em gestantes, por meio da placenta. Além do sangue do cordão umbilical e em vias aéreas do recém-nascido.
Todavia, Tarsila reforça que outros levantamentos são necessários:
“Ainda que a transmissão vertical seja confirmada, será necessário estudar o significado clínico disso.”
Em contrapartida, o chefe do departamento de obstetrícia do Hospital e Maternidade Santa Joana (SP), Mário Macoto Kondo, revela que a probabilidade de um acontecimento grave no bebê deve ser baixo:
“Ao contrário de outros vírus, como o Zika, parece que o Sars-Cov-2 não provoca malformações fetais. Isso já nos traz um grande alívio.”
3 – Pode haver risco de um parto prematuro por causa da Covid-19 em gestantes?
Segundo uma publicação no periódico BMJ a respeito de uma revisão sistemática do PregCOV-19 Living Systematic Review Consortium, a Covid-19 em gestantes podem sim estar sujeitas a um parto antes do previsto. Entretanto, outras taxas gerais de nascimentos pré-termo espontâneos não são altas neste momento de pandemia.
4 – Quadros graves de Covid-19 são mais frequentes em grávidas?
Segundo Tarsila, “se a paciente não tiver nenhuma doença prévia, não”. Portanto, o quadro pode se agravar se a gestante possuir fatores de risco já conhecidos para casos considerados graves sobre o coronavírus, como: diabetes, obesidade e hipertensão. Sobre isso, o ginecologista da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein, Eduardo Zlotnik, reforça:
“Comorbidades maternas sempre aumentam os riscos em qualquer gravidez.”
5 – Existem riscos para o bebê ainda na barriga?
Esse fator dependerá da gravidade do quadro clínico da mãe, que pode impactar diretamente no bem-estar do filho. Aqui, Kondo ressalta:
“Se a gestante estiver respirando sem dificuldade, a passagem do oxigênio para a placenta será mantida. O problema se dá em casos graves, quando há diminuição da oxigenação, levando sofrimento ao bebê. Além disso, observamos que a infecção aguda pode levar à diminuição do líquido amniótico.”
6 – Em caso de Covid-19 em gestantes, elas podem ser entubadas e tomar remédios para combater a doença:
Com indicação médica pode sim. Pois, se o caso é grave, com falta de oxigenação, a recomendação é ventilação mecânica, afirma Kondo:
“O tratamento é realizado como fosse fora da gravidez, mas, claro, prezando a saúde do bebê.”
Ele reforça que os medicamentos podem ser administrados normalmente, pois os remédios utilizados para “infecções pulmonares não causam prejuízos aos fetos”.
7 – Como ocorre o parto em gestantes com coronavírus?
Kondo alerta que a doença não exige cesárea. O parto segue como planejado pela mãe, em caso dela desejar ter um parto mais humanizado, por exemplo. O que muda são os protocolos de segurança, afirma o obstetra:
“Toda mulher que entra no hospital para um parto é testada. Caso ela esteja com o vírus, os cuidados de higiene são ainda maiores e há recomendações de cautela e proteção na hora da amamentação e cuidados com o bebê.”
8 – A pandemia altera o pré-natal das gestantes?
Neste quesito a classe médica é unânime: o estado de pandemia não altera consultas ou exames de pré-natal, afirma Tarsila:
“A rotina não pode ser suspensa em nenhum contexto. Os malefícios para a saúde materno-fetal superam qualquer risco aumentado de contrair o coronavírus.”
Por fim, em casos de Covid-19 em gestantes, o recomendado é realizar um acompanhamento ainda mais intenso, mesmo que o quadro da grávida não se agrave.
*Foto: Reprodução/Pixabay