Projeto que apoia tentantes no Brasil foi criado por advogada que ouviu que jamais seria mãe e em maio deste ano deu à luz um menino, chamado Francisco
Muitas tentantes já ouviram coisas do tipo que jamais poderiam engravidar ou que fazer um tratamento é doloroso demais e que nem sempre dá certo. Porém, são histórias incontáveis de mulheres que conseguiram realizar o sonho de gerar um filho. É o caso da advogada Tamize Ferreira que deu à luz em maio deste ano a seu filho Francisco.
Projeto que apoia tentantes
Antes de ter seu filho nos braços, Tamize enfrentou muitos obstáculos. E foi justamente por todos eles que ela criou o Instituto do Direito à Saúde da Mulher. O projeto apoia tentantes, oferecendo orientação e amparo. Ela teve a ideia de criar o instituto pensando nas mulheres que dependem exclusivamente do SUS.
Jamais poderia engravidar
Tamize conta que ouviu diversas vezes que jamais engravidaria naturalmente. Isso porque ela já tinha um quadro grave de endometriose. Seu diagnóstico veio após 12 anos convivendo com um fluxo menstrual semelhante a uma hemorragia, seguida por cólicas fortíssimas, além de muita indisposição. Porém, em 2015, um médico finalmente descobriu sua condição de saúde. Ela conta que o cenário era tão crítico que seria preciso uma intervenção cirúrgica urgente.
Infertilidade nunca foi um tabu em seu casamento
Por outro lado, a advogada relata que a infertilidade nunca foi um tabu em seu casamento. Ao contrário, ela com então 25 anos de idade e seu marido, Jorge, em início da vida a dois, conversavam muito a respeito e viam as possibilidade de uma reprodução assistida ou ainda a chance de adoção. Em seguida ela passou pela tal cirurgia, e perdeu 20 cm do intestino no procedimento, e mais dois anos em tratamento até ter alta. E aí veio um grande susto: três meses após a alta, Tamize estava grávida.
Ela descobriu a gestação quando precisou fazer uma colonoscopia e realizou um teste como pré-requisito. E recebeu o resultado positivo numa quinta-feira, mas no dia seguinte ela perdeu o bebê. Foi um misto de sentimentos, afirma. Isso porque, contrariando o lado de alguns médicos, ela podia sim engravidar.
Especialistas
Para espanto dos especialistas, mas com autorização dos mesmos, ela e o marido decidiram começar as tentativas. Meses depois, mais um resultado positivo. Estava tudo bem até a décima semana, mas o coraçãozinho do bebê parou de bater. Mais um baque para o casal. E ainda teve de esperar 30 dias até expelir totalmente o feto, o que foi muito traumatizante para Tamize. E ela teve que passar pela curetagem, tendo uma forte hemorragia com risco de morte.
Mas o pior foi ouvir dos médicos, sem a menor sensibilidade, de que “é normal perder bebê, todo mundo perde”.
Ajuda psicológica
A advogada fez terapia para seguir em frente e também ouviu que o protocolo era investigar de fato o caso após “três perdas gestacionais”. Mas ela não aceitou aquilo e tomou uma atitude. Procurou outras opiniões. E foi numa conversa informal com um médico que ele perguntou: “Tu já investigaste se tens trombofilia?”.
E após fazer exames específicos veio o resultado afirmativo para a trombofilia e que esta condição poderia ser a responsável pelas gestações não avançarem. Ela explica que é como se fosse “um defeito de coagulação que o corpo atacar o bebê, impedindo a passagem de oxigênio para o feto”. Porém, era impossível tomar uma medicação durante a gravidez para levar a gestação até o final.
Outras tentativas
Já com a criação do Instituto do Direito à Saúde da Mulher, Tamize seguia firme tentando engravidar. Mas a endometriose voltou a piorar. E em agosto de 2019, ela chegou ao seu limite físico e emocional. Além disso, engravidar havia se tornado uma obsessão já.
“Transei chorando de tanto estresse, aquilo não era mais saudável. Decidimos dar um tempo e colocar a cabeça no lugar.”
Mais uma cirurgia
Contudo, no começo de 2020, os médicos disseram que ela teria de passar por outra cirurgia. Isso porque o quadro atual afetou suas ações básicas, como urinar e evacuar. Aliado a isso chegou a pandemia de Covid-19 e Tamize não foi operada. Chegou a tomar 12 remédios por dia para controlar as dores, até morfina usaram.
Porém, neste turbilhão de emoções, seu marido Jorge sonhou que ela estava grávida. Ela não acreditou, pois por conta de seu quadro de saúde, o casal mal tinha relações sexuais. Mas o resultado deu positivo mesmo assim.
Tamize se preocupou em colocar o bebê em risco já que tomava remédios fortíssimos diariamente. E nenhum médico acreditava que estava grávida de fato.
De uma hora para outra sua vida tomou um novo rumo: gravidez de alto risco, com acompanhamento semanal e injeções diárias para controlar a trombofilia. E ainda tinha a sensação de que poderia perder seu bebê a qualquer momento.
Nascimento do Francisco
E mais uma vez, contrariando a medicina, Francisco nasceu de 37 semanas em 19 de maio de 2021. Uma cesárea de emergência foi feita. Afinal de contas, “não poderia faltar emoção na reta final, né?”.
Tamize conta que sua preocupação era tanta que nem sentiu a injeção de anestesia e quando se deu conta o filho já estava em seus braços. Um bebê saudável, lindo, a realização de um sonho.
A cura
Para a advogada de 31 anos, o filho simboliza um processo de cura, sua gravidez amenizou os sintomas da endometriose. Além de uma cura emocional, já que foi uma caminhada muito desgastante e traumática.
Ela conclui que “o caminho para o diagnóstico às vezes é longo, só que não podemos ter medo de questionar, de esgotar as possibilidades”. Disse que respeitou suas limitações, as opiniões dos médicos e lutou para ter sua família com as armas que tinha e que não se arrepende de nada.
*Foto: Divulgação/Depositphotos