Segundo especialistas, medidas de prevenção à Covid-19 podem interferir na saúde mental de grávidas e puérperas
Um artigo do periódico médico JAMA Psychiatry, publicado no mês passado, intitulado “Meeting Maternal Mental Health Needs During the Covid-19 Pandemic” (“Atendendo às necessidades de saúde mental materna durante a pandemia da Covid-19”, em tradução livre), fala sobre a saúde mental de grávidas puérperas, em relação à pandemia. Acontece que o estado delas fica mais vulnerável ainda, em razão dos transtornos de humor e ansiedade, gerados pelos cuidados tomados durante o período de quarentena.
Saúde mental de grávidas e puérperas
No artigo, as autoras Alison Hermann, Elizabeth M. Fitelson e Veerle Bergink, pesquisadoras em psiquiatria dos Estados Unidos, discutem estratégias para reduzir os riscos trazidos pela pandemia à saúde mental de gestantes e mulheres no pós-parto.
De acordo com o estudo, a ausência de parceiros ou visitantes no momento do parto durante a pandemia acontece por fatores diversos. Entre os quais: estarem infectados pelo coronavírus ou por restrições impostas pelas maternidades, por exemplo. Sendo assim, tais fatores fazem com que a vivência do nascimento do bebê seja muito mais prejudicial à saúde mental materna, diz o texto:
“Essa experiência desorientadora aumenta o medo e a alienação de mulheres em trabalho de parto e pode aumentar o risco de transtorno de estresse pós-traumático relacionado ao nascimento, especialmente para mulheres com trauma pré-existente.”
Companhia na hora do parto é vital para saúde mental de grávidas e puérperas
Contudo, as pesquisadoras dizem que ter um acompanhante na hora do parto melhora os resultados psicológicos e obstétricos para mulheres e seus recém-nascidos, principalmente no que diz respeito a minorias raciais. Portanto, elas indicam que departamentos obstétricos ajustem suas equipes para adicionar doulas internas e assistentes médicas. Além disso, que também providenciem que os parceiros participem do trabalho de parto por videoconferência quando não puderem estar fisicamente presentes.
Hospitalizações pós-parto
Outro destaque do artigo é em relação às hospitalizações pós-parto. Para as pesquisadoras, as hospitalizações de curto período, que estão acontecendo na pandemia, limitam a chance de recuperação pós-parto com o apoio da equipe médica. Elas ainda apontam que as puérperas necessitam ter contato com especialistas nesse primeiro momento. Portanto, consultas de telemedicina podem ajudar. Porém, nos casos de mulheres que sofrem violência do parceiro ou estão em situação de pobreza, por exemplo, demandam recursos alternativos, como clínicas com consulta presencial, além de acesso às plataformas de telemedicina e ampliação de seu acesso ao wi0fi e até mesmo visitas domiciliares.
Sonos das puérperas
Todavia, o sono das mulheres no pós-parto também é discutido no estudo. Ele ressalta a importância de que as puérperas consigam dormir bem e o tempo adequado. Entretanto, durante a pandemia, muitas mães se encontram sem apoio. Isso engloba: sem ajuda dos avós do bebê, e isso faz com que seja preciso administrar horários de dormir com quem mora com elas para “proteger o sono materno”.
Em relação às grávidas com histórico de transtornos de humor ou de ansiedade, o artigo recomenda o uso preventivo de psicoterapias por meio de plataformas virtuais de saúde, sempre que possível. Já sobre o uso de medicação psicoativa, é sempre necessário que a gestante consulte seu médico. Porém, as autoras dizem que, em meio à pandemia, os riscos de transtornos mentais não tratados são maiores do que em cenários normais. Elas ainda defendem que a interrupção de tratamentos bem-sucedidos é desencorajada para a maioria dos medicamentos.
Parto em casa
A escolha de ter a criança em casa, muito buscada por algumas mulheres durante a pandemia, tem sido realizada de maneira apressada, em função do medo de infecção pelo coronavírus em maternidades, de acordo com as pesquisadoras:
“Isso coloca muitas mulheres em um risco maior de complicações obstétricas já conhecidamente associadas com partos em casa e riscos adicionais caso a resposta da emergência demore e departamentos de saúde estejam sobrecarregados.”
No entanto, elas afirmam que alterações no planejamento do parto motivadas por ansiedade e baseadas apenas em medo da pandemia devem ser desencorajadas.
*Foto: Divulgação