Adolescentes grávidas têm o segundo filhos antes de atingir a maioridade, segundo estudo da UFES
Quase 1 em cada 5 adolescentes gestantes volta a engravidar antes de chegar à vida adulta. É o que revela uma pesquisa que avaliou dados de mais de 4.500 grávidas entre 12 e 19 anos em todo o Brasil. O estudo investigou os fatores que levam à reincidência na gestação nessa idade e foi feito pela UFES (Universidade Federal do Espírito Santo) a partir de informações do estudo “Nascer no Brasil”, da Fiocruz.
Adolescentes grávidas
A taxa de nova gestação entre essas adolescentes grávidas é de 18,6% e a enorme maioria não foi planejada e desejada. Além disso, jovens com baixa escolaridade e renda são as mais expostas ao problema. Já aquelas que moram com o companheiro possuem uma chance duas vezes maior de engravidar novamente.
Reincidência
Por outro lado, o risco de reincidir cai 23% a cada ano que se consegue adiar a gravidez. É o que explica a enfermeira Thamara de Souza Campos Assis, uma das autoras do estudo.
“A escolaridade é um fator protetivo e quanto mais ela fica na escola, mais atrasa a maternidade.”
E ainda reforçou que “isso dá um sentido pra vida delas, de realizar sonhos e ter metas”.
Riscos para as adolescentes grávidas
Contudo, nessa idade, também há risco de mais complicações na gravidez, como hipertensão, pré-eclâmpsia e eclâmpsia, parto prematuro e bebês com baixo peso ao nascer. Segundo Mariano Tamura, ginecologista e obstetra do Hospital Israelita Albert Einstein (SP):
“Como o corpo ainda está em amadurecimento, pode até haver um déficit calórico pelas demandas do próprio organismo da adolescente e da gestação. Não é o momento para uma sobrecarga.”
Falta de maturidade
Todavia, a falta de maturidade também traz outros problemas:
“Elas procuram menos atendimento, não seguem as orientações corretamente e acabam fazendo um pré-natal de pior qualidade.”
Falha no acesso à saúde reprodutiva
Thamara reforça que “os resultados mostram a dificuldade de acesso ao planejamento familiar e à saúde reprodutiva das adolescentes”. Às vezes elas sentem vergonha de assumir que já iniciaram a vida sexual ou não encontram acolhimento na família e nos serviços de saúde.
“Após terem filhos, muitas acabam assumindo essa função na sociedade, pois isso já define um rumo e fecha outras possibilidades.”
Meios de evitar uma gestação
No entanto, não faltam meios de evitar uma gestação indesejada e não há nenhuma contraindicação ao uso de contraceptivos nesta idade, como a pílula anticoncepcional. Mas, para quem esquece de tomar o comprimido, uam boa alternativa são os implantes hormonais. Já o DIU (dispositivo intrauterino) possui hoje uma versão mini. Contudo, o mais importante é procurar um médico antes mesmo de começar a vida sexual, que vai orientar essa escolha, ressalta Tamura.
“Esse tema pode e deve ser abordado em qualquer consulta, mesmo com outros especialistas, se a paciente estiver mais à vontade com outro profissional.”
E a visita ao ginecologista também é fundamental quando há queixas ou sintomas menstruais, ou sinais de infecção, como corrimento ou ardência.
Brasil é o país que mais possui adolescentes grávidas
Apesar de uma ligeira queda nos últimos anos, o Brasil ainda possui uma das maiores taxas de gravidez na adolescência da América Latina. Só em 2020, foram aproximadamente 380 mil partos de mães com até 19 anos —cerca de 14% de todos os nascimentos no país, segundo dados do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para a Saúde.
Em 2018, eram 15,5% no país. No Peru e na Costa Rica a taxa é 11%; na Argentina e no Uruguai, 10%; e no Chile, 5%. Esses dados são do Fundo de População das Nações Unidas, a agência que trata de saúde sexual e reprodutiva.
Embora o fenômeno atinja todas as classes sociais, é mais frequente nas mais vulneráveis. São elas que também sofrem o maior impacto, tanto no acesso à saúde quanto na perda de oportunidades.
*Foto: Depositphotos