Estudo espanhol revela que funções motoras de bebês de grávidas com covid podem apresentar problemas já nas primeiras semanas de vida
Desde o começo da pandemia, em 2020, cientistas trabalham para identificar sequelas da exposição ao novo coronavírus. E a lista é grande e diversa. Entretanto, os infectados analidados, geralmente, são adultos, idosos e crianças. Além disso, faltam dados sobre o que ocorre de fato quando o primeiro contato com o Sars-CoV-2 acontece ainda no útero materno.
Funções motoras de bebês de grávidas com covid
Todavia, um grupo de cientistas de instituições espanholas se dedica a investigar os efeitos dessa condição. Um dos primeiros resultados foi que recém-nascidos de mulheres que tiveram covid-19 durante a gravidez podem problemas na função motora já nas primeiras semanas de vida.
O estudo englobou a análise de recém-nascidos e 42 mulheres. Desse total, 21 delas testaram positivo para a doença durante a gestação. Todos eles foram atendidos no Hospital Universitário Marqués de Valdecilla, em Santander.
As mulheres foram submetidas a uma série de exames durante e após a gestação, como avaliação hormonal e bioquímica (níveis de cortisol, resposta imunológica etc.), testes salivares, e de respostas de movimento, além de responderem a questionários psicológicos.
Já para a análise dos bebês, adotou-se a Escala de Avaliação Comportamental Neonatal (NBAS), que avalia a capacidade de movimento e o comportamento. E os resultados mostraram que os bebês nascidos de mães que foram infectadas pelo Sars-CoV-2 apresentaram maiores dificuldades em relaxar e adaptar o corpo quando estavam no colo, quando comparados aos que nasceram de mulheres que não tiveram covid-19. Além disso, as crianças do primeiro grupo tendiam a apresentar maior dificuldade em controlar os movimentos da cabeça e dos ombros.
Tais complicações foram detectadas na sexta semana após o parto e se mostraram mais acentuadas quando a exposição ao vírus se deu no fim da gestação.
Em comunicado, a pesquisadora da Universidade de Barcelona e uma das autoras do estudo, Águeda Castro, explicou:
“Descobrimos que certos elementos da medição NBAS foram alterados em bebês de 6 semanas que foram expostos ao vírus Sars-CoV-2. Efetivamente, eles reagem de maneira um pouco diferente ao serem segurados ou abraçados.”
Segundo a pesquisadora, o grupo conduziu os testes de modo “especialmente sensível”. Cada mãe e bebê foram examinados de perto por médicos com treinamento especializado nas áreas avaliadas e nos testes aplicados.
“Esse é um projeto em andamento e estamos em um estágio inicial (…) Não sabemos se esses efeitos resultarão em problemas de longo prazo. A observação duradoura vai nos ajudar a entender isso.”
Ponto de vista
Por outro lado, a líder do projeto, Ayesa Arriola faz ponderação semelhante.
“Nem todos os bebês nascidos de mães com covid-19 apresentam diferenças de desenvolvimento neurológico, mas nossos dados mostram que o risco é maior, em comparação àqueles não expostos ao coronavírus no útero. Precisamos de um estudo maior para confirmar a extensão exata da diferença.”
Os resultados já obtidos foram apresentados no 30º Congresso Europeu de Psiquiatria, que termina hoje, em Budapeste, na Hungria.
Novas práticas
Agora, a equipe planeja acompanhar o desenvolvimento motor e as evoluções na linguagem dos bebês com idade entre 18 e 42 meses. Sobre isso, uma das coautoras do estudo, Nerea San Martín González, explica que, em crianças muito jovens, é impossível avaliar habilidades como a linguagem e a cognição.
Sendo assim, o acompanhamento a longo prazo e a análise de um grupo ampliado de bebês ajudarão a equipe a aprofundar os conhecimentos obtidos.
“Precisamos de uma amostra maior para determinar o papel da infecção nas alterações do neurodesenvolvimento da prole e a contribuição de outros fatores ambientais.”
No campo da pesquisa, a colaboração entre os estudiosos sobre os efeitos da covid-19 na primeira infância ajudará na criação de abordagens mais eficazes para prevenir e avaliar as sequelas, conclui Ayesa Arriola.
*Foto: Depositphotos