Na última semana, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) lançou uma campanha de prevenção ao agendamento de cesáreas desnecessárias. O objetivo desta ação é alertar quanto aos riscos à saúde da mãe e do bebê quando há a antecipação do nascimento em partos cesarianos sem indicação médica.
Cesáreas desnecessárias – posição da ANS
Segundo a ANS, dos 484.010 partos realizados em 2020, 400.243 foram por cirurgias cesáreas (80%). Essa campanha integra as ações estratégicas do Movimento Parto Adequado. O intuito é favorecer melhores práticas neonatais com base em evidências científicas em benefício da saúde de mulheres e bebês, conforme a agência.
Portanto, agora, os partos cesarianos agendados sem indicação clínica, onde não se espera o momento em que o bebê está pronto para nascer, resultam em mais riscos de saúde para mãe e filho. Entretanto, quando há recomendação, o agendamento de cesáreas pode salvar vidas.
De acordo com a gerente-substituta de Estímulo à Inovação e Avaliação da Qualidade Setorial da ANS, Rosana Neves:
“Ao analisarmos os dados históricos do setor, identificamos todos os anos um incremento sazonal das cesarianas durante festas, feriados e férias, sobretudo entre dezembro e fevereiro. Possivelmente este fato está relacionado às questões de conciliação de agendas, conveniência, ou o receio da ausência de profissionais disponíveis nestes períodos. É importante esclarecer que o trabalho de parto se configura como uma situação que demanda assistência imediata. As maternidades e hospitais com serviço de atenção obstétrica e neonatal devem operar com o pronto atendimento, com equipes de plantão presencial diuturnamente (24 horas por dia/7 dias por semana), incluindo feriados.”
Painel de Indicadores de Atenção Materna e Neonatal
Além disso, conforme o Painel de Indicadores de Atenção Materna e Neonatal, divulgado também pela ANS, em 2019, nos hospitais privados, o maior percentual de realização de cirurgias cesáreas aconteceu entre 37 e 38 semanas. Nesta fase, os órgãos vitais do bebê, como o coração e pulmão, ainda estão completando seu desenvolvimento.
Já os partos vaginais foram feitos mais vezes entre 40 e 41 semanas, quando os pulmões estão maduros e o trabalho de parto pode começar espontaneamente. De modo geral, o tempo mínimo ideal de uma gestação é de 39 semanas.
Histórico do movimento
Desde 2015, existe o Movimento Parto Adequado, que incentiva hospitais a desenvolverem modelos inovadores e viáveis de atenção à gravidez, ao parto, e ao nascimento.
Entre as medidas recomendadas, estão:
- acolhimento das gestantes desde o pré-natal;
- maior disponibilidade de equipes plantonistas multiprofissionais, incluindo enfermeiras obstétricas e anestesistas;
- assim como uso adequado de métodos não farmacológicos para alívio da dor, como chuveiro e massagens;
- bem como um rigoroso processo para agendamento de cirurgias cesáreas eletivas.
De acordo com a agência, a campanha já evitou mais de 20 mil cesáreas desnecessárias.
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